4 de julho de 2013

Roubando Textos: Gente que leva a desgraça no bolso

O Texto roubado de hoje foi da Amanda Montt do blog Conspirantes!

SEBASTIAN

Acho engraçado quando vejo alguém lamentando uma tragédia. Sabe aquele pessoal masoquista que oito meses depois de um incêndio, terremoto, homicídio ou o que for, fica curtindo a melancolia e perturbando quinze dúzias de pessoas com seu tormento? Não é questão de humor negro, mas nunca fez muito sentido na minha cabeça. Também não é questão de tempo, mesmo que eu não entenda gente que ainda lamenta sobre o Titanic. Parece que o sofrimento tem alguma delícia tão pessoal na pessoa que fica divertido para ela ficar retomando. E de novo. E de novo.
Ei, você é órfão. Por que está feliz? Você não pode ser feliz porque seus pais estão mortos. Como você pode ser insensível a esse ponto com eles?
Como você pode ouvir música alegre enquanto milhões de crianças morrem de fome na África?
11 de setembro é um dia de luto. 27 de janeiro também. E não esquece do 25 de junho. Você precisa fazer no mínimo um jejum por todas essas mortes. 
A mim, esse tipo de informação chega como um tipo de compaixão. Um tipo ruim. Como se o sofrimento de outra pessoa ajudasse a melhorar a situação. Não consigo enxergar o ponto de vista desse tipo de gente. Mas também não acho que tudo isso deveria ser ignorado, mas sem pesar. Quem se envolveu já tem peso demais.
Imagine-se entrando em um orfanato. A parede está meio roída, o teto tem um pouco de mofo, as crianças estão com os olhos arregalados e tristes. O ambiente não está lá dos melhores. Sua compaixão acabaria tornando o clima mais tenso e as crianças cabisbaixas. Como se você andasse com um letreiro luminoso "Coitado! Cê tá na merda, hein, colega? Sinto muito!" E por mais carinhosas que suas palavras fossem, é mais ou menos assim que a informação chega.
Faz um favor para o mundo e tente não tratar ninguém diferente. Forçar uma ideia de coitado na cabeça de quem sofre/sofreu é a pior ideia que você pode ter para uma situação assim. Qualquer distração ajuda mais do que acariciar a cabeça. Vai ficar tudo bem. Não fica triste. Não. Esquece isso, vamos jogar bola. Tem um filme novo em cartaz. Sua ex? Deixa ela. Tentar ao máximo não invadir a bolha de cada um faz parte, e não mexer na ferida ajuda-a a cicatrizar mais rápido. Amarre um laço no dedo, mas não se esqueça disso.

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